domingo, 9 de janeiro de 2011

Raízes do Brasil. Considerado um dos livros clássicos para a compreensão do Brasil. Seu autor, Sérgio Buraque de Holanda (1902-1982), historiador, é um dos nossos grandes intérpretes da realidade brasileira. O livro foi publicado pela primeira vez, no ano de 1936. Revisto e modificado alguns pontos, em 1947, pelo próprio autor. Raízes do Brasil. Companhia das Letras. 26ª Edição.
Neste livro, Buarque trabalha, através de uma metodologia Weberiana (Tipos Ideais), a exploração de conceitos polares, mas que no entanto, são postos em uma confluência dialética. Um suscita o outro. Ambos   se interpenetram.
Trabalho & Aventura. O Semeador & O Ladrilhador. Método & Capricho. Rural & Urbano. Norma pessoal & Impulso afetivo. Burocracia & Caudilhismo. 
Pontos do livro: A questão do Homem Cordial: presupõe o predomínio, no homem brasileiro, dos componentes de aparência afetiva. O que não significa questões de bondade. Coisas que procedam da esfera do íntimo, do familiar, do privado. O peso das relações de simpatia penetrando até mesmo a esfera pública. E nisso se faz presente a antiga dificuldade do brasileiro em distinguir os interesses da esfera pública com o da esfera privada. ( Aqui no Brasil há um predomínio das tradições herdadas da família do tipo partriarcal). São as relações da Casa Grande, lugar do senhor, cuja vontade é lei, lugar do compadrio, do protetorado, do amigo conhecido, dos vínculos afetivos e pessoais, das brechas nas leis para ajudar os nossos íntimos. Diz Buarque que: As relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. 
Os funcionários públicos que iam compondo a estrutura administrativa do Estado (patrimonialista) brasileiro, advindos dessas famílias do tipo patriarcal, não se coadunava com a idéia de um funcionário burocrático, guiado unicamente pela racionalidade das leis. Imparcial.
Para o funcionário patrimonial, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos. 
Buarque fala também que nos países ibéricos, e os países por eles colonizados, sempre houve uma grande valorização em torno do prestígio pessoal. O personalismo, o mérito pessoal, a frouxidão das instituições, a autarquia do indivíduo, o gosto pela aventura - especificamente os portugueses- ( o aventureiro é aquele que tem como ideal colher o fruto sem plantar a árvore), a repulsa pelo trabalho regular, a paixão que não tolera compromissos. O gosto da aventura teve influência decisiva em nossa vida nacional.
Vai complementado Buarque ao longo do livro, que nossos colonizadores, por exemplo, queriam extrair de nosso solo execessivos benefícios sem grandes dificuldades. Nossos colonizadores eram, antes de tudo, homens que sabiam repetir o que estava feito ou o que lhes ensinavam a rotina. ( Ateavam fogo no mato, assim como faziam os índios). Exploração de solos. Técnicas rudimentares. 
A rotina e não a razão abstrata foi o princípio que norteou os portugueses. A repulsa firme a todas modalidades de racionalização e, por conseguinte, de despersonalização tem sido, até aos nossos dias, um dos traços mais constantes dos povos de estirpe ibérica. 
Só pra constar. A questão do pensamento. O trabalho mental era tido como algo que se contrapunha ao trabalho que fustigava o corpo. O trabalho mental pode constituir a ocupação em todos os sentidos digna de antigos senhores de escravos e dos seus herdeiros. Porém, o trabalho dessa "inteligência" é simplesmente decorativa, e, acima de tudo, existe em função ao contraste com o trabalho físico, fazer oposição ao trabalho servil, que não cabe à nobreza, fazer oposição às atividades mecânicas. ( que é um contraponto às chamadas atividades tidas como liberais). É a inteligência como ornamento e prenda. Amor a frase sonora, erudição ostentosa, à expressão rara. O Bacharel (entenda-se aqui principalmente o bacharel em Direito), por exemplo, que, data venia, faz o uso de uma linguagem morta. São as virtudes senhoriais  predominando (das nossas elites), ditando às regras. Importando modelos de pensamento. Nunca pensando à própria realidade, uma vez que ela tinha horror ao que a circundava.
A família partricarcal fornece, assim, o grande modelo por onde hão de se calcar, na vida poítica, as relações entre governantes e governados, entre monarcas e súditos.



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