domingo, 30 de janeiro de 2011

 
A Sociologia no Brasil. Editora Vozes. 1977. petrópolis. Rio de Janeiro.
Esse livro de Florestan Fernandes aborda a construção da sociologia no país, bem como a produção do pensamento sociológico no Brasil. Dentre os vários pontos que Florestan aborda, vou colocar  aqui um ponto  interessante analisado por ele, que é o de como a sociologia é vista (compreendida) no país. 
São noções, como diz Florestan, extracientíficas de estudo sociológico, que por fim, acabam atrapalhando o desenvolvimento da sociologia enquanto ciência que contém suas especificidades e métodos próprios.
São três as noções que colidem com a definição positiva de estudo sociológico. 
1ª - ) A mais generalizada e simples faz dele ( o estudo sociológico) um equivalente de qualquer sorte de reflexão sistemática sobre temas ou problemas sociais do país. Por isso, políticos, jornalistas, ensaístas, romancistas, historiadores, folcloristas qualificam como sociológicas, com a maior boa-fé, produções intelectuais que não tem nenhuma relação com os propósitos da investigação sociológica propriamente dita. 
☻Essa aprimeira noção de estudo sociológico embaraça, enormemente, o exato entendimento do caráter da sociologia como especificidade científica. Ela identifica de tal forma o conhecimento científico com o conhecimento do senso comum, que afinal de contas nada poderia justificar a própria existência da sociologia como matéria científica.

2ª - ) Uma segunda representação, menos divulgada mas relativamente enraizada, converte a sociologia em polarização intelectual de atitudes e convicções ideológicas. Ensaios inspirados pelo liberalismo, pelo integralismo, pelo socialismo, etc.; são encarados como constribuições sociológicas.
☻A segunda noção de estudos sociológicos precisa ser encarada através de dois contextos diversos de avaliação ( No contexto positivo, constitui-se como tentativas racionais de autoconsciência e de explicação realista das condições de existência social, disposição intelectual do espírito, abre caminho à investigação sistemática dos fenômenos sociais). Em contextos de avaliação estritamente negativos, a sociologia é projetada numa área de ameaça aos fundamentos emocionais e morais da ordem estabelecida. Nesse caso, tudo que pode ser entendido como sociológico deve ser repelido como fonte de perigos reais ou potenciais para os costumes ou a mentalidade do povo brasileiro.

3ª - ) Na terceira modalidade de definição societária, a sociologia é aceita como disciplina autônoma, com intuitos cientifizantes, a ser utilizada, com a cooperação de especialistas, como recurso racional de compreensão do presente, de propaganda e de acomodação intergrupal.
☻A terceira noção de estudo sociológico envolve vinculações intelectuais e práticas mais complexas. A sociologia pode ser representada como especialidade científica, mas sua apreciação axiológica é feita em termos de preocupações ultracientíficas, nascidas do modo de entender sua utilidade na realização de certo fins racionais, de suma importância para determinadas camadas sociais. No Brasil, uma relação dessa ordem nasceu dos interesses que a burguesia urbana e industrial empenhou no domínio e na manipulação de técnicas sociais, que pareciam garantir maior eficácia na organização do poder e na preservação da paz social.


" Quem quer saber da verdade, vista pela ótica do sociólogo? E o que é a verdade, numa época de crise civilizacional, na qual a sociedade burguesa vive a negação de suas ideologias e de suas utopias fundamentais? A burguesia revolucionária precisou da sociologia, como técnica de autoconsciência, de previsão histórica e de ação social construtiva. No momento atual, de contra-revolução, as burguesias do centro ou da periferia não apelam mais para a imaginação criadora dos cientistas sociais. Elas dependem de uma tecnologia incorporada à ordem e que gravita em torno do terror organizado e institucionalizado, para o qual o sociólogo só interessa se deixar de ser um investigador, para ser um funcionário". Florestan Fernandes.

" O sociólogo deve estar preparado para produzir o conhecimento sociológico necessário ao entendimento e à transformação da ordem existente". Florestan Fernandes.

Essas frases são do livro mesmo.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Raízes do Brasil. Considerado um dos livros clássicos para a compreensão do Brasil. Seu autor, Sérgio Buraque de Holanda (1902-1982), historiador, é um dos nossos grandes intérpretes da realidade brasileira. O livro foi publicado pela primeira vez, no ano de 1936. Revisto e modificado alguns pontos, em 1947, pelo próprio autor. Raízes do Brasil. Companhia das Letras. 26ª Edição.
Neste livro, Buarque trabalha, através de uma metodologia Weberiana (Tipos Ideais), a exploração de conceitos polares, mas que no entanto, são postos em uma confluência dialética. Um suscita o outro. Ambos   se interpenetram.
Trabalho & Aventura. O Semeador & O Ladrilhador. Método & Capricho. Rural & Urbano. Norma pessoal & Impulso afetivo. Burocracia & Caudilhismo. 
Pontos do livro: A questão do Homem Cordial: presupõe o predomínio, no homem brasileiro, dos componentes de aparência afetiva. O que não significa questões de bondade. Coisas que procedam da esfera do íntimo, do familiar, do privado. O peso das relações de simpatia penetrando até mesmo a esfera pública. E nisso se faz presente a antiga dificuldade do brasileiro em distinguir os interesses da esfera pública com o da esfera privada. ( Aqui no Brasil há um predomínio das tradições herdadas da família do tipo partriarcal). São as relações da Casa Grande, lugar do senhor, cuja vontade é lei, lugar do compadrio, do protetorado, do amigo conhecido, dos vínculos afetivos e pessoais, das brechas nas leis para ajudar os nossos íntimos. Diz Buarque que: As relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós. 
Os funcionários públicos que iam compondo a estrutura administrativa do Estado (patrimonialista) brasileiro, advindos dessas famílias do tipo patriarcal, não se coadunava com a idéia de um funcionário burocrático, guiado unicamente pela racionalidade das leis. Imparcial.
Para o funcionário patrimonial, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos. 
Buarque fala também que nos países ibéricos, e os países por eles colonizados, sempre houve uma grande valorização em torno do prestígio pessoal. O personalismo, o mérito pessoal, a frouxidão das instituições, a autarquia do indivíduo, o gosto pela aventura - especificamente os portugueses- ( o aventureiro é aquele que tem como ideal colher o fruto sem plantar a árvore), a repulsa pelo trabalho regular, a paixão que não tolera compromissos. O gosto da aventura teve influência decisiva em nossa vida nacional.
Vai complementado Buarque ao longo do livro, que nossos colonizadores, por exemplo, queriam extrair de nosso solo execessivos benefícios sem grandes dificuldades. Nossos colonizadores eram, antes de tudo, homens que sabiam repetir o que estava feito ou o que lhes ensinavam a rotina. ( Ateavam fogo no mato, assim como faziam os índios). Exploração de solos. Técnicas rudimentares. 
A rotina e não a razão abstrata foi o princípio que norteou os portugueses. A repulsa firme a todas modalidades de racionalização e, por conseguinte, de despersonalização tem sido, até aos nossos dias, um dos traços mais constantes dos povos de estirpe ibérica. 
Só pra constar. A questão do pensamento. O trabalho mental era tido como algo que se contrapunha ao trabalho que fustigava o corpo. O trabalho mental pode constituir a ocupação em todos os sentidos digna de antigos senhores de escravos e dos seus herdeiros. Porém, o trabalho dessa "inteligência" é simplesmente decorativa, e, acima de tudo, existe em função ao contraste com o trabalho físico, fazer oposição ao trabalho servil, que não cabe à nobreza, fazer oposição às atividades mecânicas. ( que é um contraponto às chamadas atividades tidas como liberais). É a inteligência como ornamento e prenda. Amor a frase sonora, erudição ostentosa, à expressão rara. O Bacharel (entenda-se aqui principalmente o bacharel em Direito), por exemplo, que, data venia, faz o uso de uma linguagem morta. São as virtudes senhoriais  predominando (das nossas elites), ditando às regras. Importando modelos de pensamento. Nunca pensando à própria realidade, uma vez que ela tinha horror ao que a circundava.
A família partricarcal fornece, assim, o grande modelo por onde hão de se calcar, na vida poítica, as relações entre governantes e governados, entre monarcas e súditos.



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Roland Corbisier (1914-2005). Foi um filósofo brasileiro. Foi um dos fundadores e o primeiro diretor do ISEB ( Instituto Superior de Estudos Brasileiros). Proferiu várias conferências e estudos sobre o pensamento de Hegel. O livro data do ano de 1959. Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Ministério da Educação e da Cultura. Rio de Janeiro.
Neste livro há várias pontos de discussão. Porém, quero trazer à tona uma idéia sobre a nossa formação que o autor expôs neste livro. Afirma ele que o Brasil não foi configurado em função dele mesmo, mas do exterior. O homem brasileiro não foi configurado por uma história e uma cultura próprias, mas por uma história e uma cultura estranhas. Estivemos sempre voltados para fora, para o exterior, em função de cujos interesses e valores sempre vivemos. O que havia de próprio no brasileiro era o alheio.
Afirma que a alienação é parte constituinte da cultura. A alienação é a própria condição dessas culturas.
A colônia é organizada para funcionar como  instrumento da nação colonizadora. E nisso, diz o autor, há uma intensa exportação e importação não só de mercadorias, mas também de valores, categorias, hábitos e formas de vida. Pois a relação que se estabelece, segundo Corbisier, é a relação entre Colonizado/Colonizador; Dominado/Dominador. 
Corbesier estabelece com isso um paralelo: Plano econômico e Plano cultural. Diz: Assim como, no plano econômico, a colônia exporta matéria-prima e importa produto acabado, assim também, no plano cultural, a colônia é material etnográfico que vive da importação do produto cultural fabricado no exterior. Ora, produzir matéria-prima é produzir o não ser, a mera virtualidade, a mera possibilidade de ser, aquilo que virá a ser quando for transformado pelos outros, quando receber a forma que os outros lhe imprimirem. Importar o produto acabado é importar o ser, a forma, que encarna e reflete a cosmovisão daqueles que a produziram.
Exportamos o não ser e importamos o ser.  Contemplamos e especulamos sobre o que nos é alheio. 
O nosso problema constitui, portanto, pensar a própria formação, voltar os olhos, de fato, à realidade que nos cerca.