segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Brasil à Venda e há quem compre.

Quem costuma ir à feira, ao mercado ou ao supermercado para comprar alimentos sabe muito bem que eles têm subido de preços. A inflação começa a ficar fora de controle. O governo Dilma está consciente de que este é o seu calcanhar de Aquiles.
Os juros tendem a subir e a União anunciou um corte de R$ 50 bilhões no orçamento federal.(Espero que programas sociais, Saúde, e Educação escapem da tesoura). Tudo para impedir que o dragão desperte e abocanhe o pouco que o brasileiro ganhou a mais de renda nos oito anos de governo Lula. 
Lá fora, há uma crise financeira, uma hemorragia especulativa difícil de estancar. Grécia, Irlanda e Portugal andam de pires nas mãos. Na Europa, apenas a Alemanha tem crescimento significativo. Nos EUA, o índice de crescimento é pífio, três vezes inferior ao do Brasil.
Por que a alta do preço dos alimentos? Devido à crise financeira, os especuladores preferem, agora, aplicar seu dinheiro em algo mais seguro que papéis voláteis. Assim, investem em compra de terras. Outro fator de alta dos preços dos alimentos é a expansão do agrocombustível. Mais terras para plantar vegetais que resultam em etanol, menos áreas para cultivar o que necessitamos no prato. Produzem-se alimentos para quem pode comprá-lo, e não para quem tem fome ( é a lógica perversa do capitalismo). Agora se planta também o que serve para abastecer carros. O petróleo já não é tão abundante como outrora. Nas grandes extensões latifundiárias adota-se a monocultura. Plantam-se soja, trigo, milho...para exportar. O Brasil tem, hoje, o maior rebanho do mundo e, no entanto, a carne virou artigo de luxo. Soma-se a isso o aumento dos preços dos fertilizantes e dos combustíveis, e a demanda por alimento na superpopulosa Ásia. Mais procura significa oferta mais cara. A China desbancou os EUA como principal parceiro comercial do Brasil.
Acrescenta-se a essa conjuntura a desnacionalização do território brasileiro. Já não se pode comprar um país, como no período colonial. Ou melhor, pode, desde que de baixo para cima, pedaço a pedaço de suas terras. Há décadas o Congresso está para estabelecer limites à compras de terras por estrangeiros. Enquanto nossos deputados e senadores engavetam projetos, o Brasil vai sendo literalmente comido pelo solo. Em 2010, a NAI Commercial Properties, transnacional do ramo imobiliário, presente em 55 países, adquiriu no Brasil, para estrangeiros, 30 fazendas nos estados de GO, MT, SP, PR, BA e TO. Ao todo, 96 mil hectares! Muitas compradas por fundos de investimentos sediados fora de nosso país, como duas fazendas de Pedro Afonso, no Tocantins, somando 40 mil hectares, adquiridas por R$ 240 milhões. Pagou-se R$ 6 por hectare. Hoje, um hectare no estado de São Paulo vale de R$ 30 mil a R$ 40 mil. É mais negócio aplicar em terras que em ações da Bolsa.
Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), ano passado cerca de US$ 14 bilhões foram destinados, no mundo, a compra de terras para a agricultura. As brasileiras constaram do pacote. Estima-se que a NAI detenha no Brasil mais de 20% das áreas de commodities para a exportação.
O escritório da NAI no Brasil conta com ceca de 200 fundos de investimentos cadastrados, todos na fila para comprar terras brasileiras e destiná-las à produção agrícola. O alimento é, hoje, a mais sofisticada arma de guerra. A maioria dos países gasta de 60 a 70% de seu orçamento na compra de alimentos. Não é à toa que grandes empresas alimentícias investem pesado na formação de oligopólios, culminando com as sementes transgênicas que tornam a lavoura dependente de duas ou três grandes empresas transnacionais. O governo Lula falou muito em soberania alimentar. O de Dilma adota como lema "Brasil: país rico é país sem pobreza". Para tornar reais tais anseios é preciso tomar medidas mais drásticas do que apertar o cinto das contas públicas. Sem evitar a desnacionalização de nosso território (e, portanto, de nossa agricultura), promover a reforma agrária, priorizar a agricultura familiar e combater com rigor o desmatamento e o trabalho escravo, o Brasil parecerá despensa de fazenda colonial: o povo faminto na senzala, enquanto, lá fora, a Casa Grande se farta à mesa às nossas custas.

FREI BETTO.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Revendo.

Raízes do Brasil.
Sérgio Burque de Holanda.

Capítulo 2 - Trabalho & Aventura. (Esta letra "&" significa junção, junção de duas coisas que estão em mútua sintonia).
"Essa exploração dos trópicos não se processou, em verdade, por um empreendimento metódico e racional, não emanou de uma vontade construtora e energética: fez-se antes com desleixo e certo abandono."

O Aventureiro: "seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore; Ignora fronteiras, onde quer que se erija um obstáculo a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo em trampolim".
O Trabalhador: " é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não triunfo a alcançar a alcançar. Sabe tirar o máximo proveito do insignificante. A parte maior que o todo".

"O trabalhador terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro- audácia, imprevidência, irresponsabilidade, instabilidade, vagabundagem. Já para os aventureiros, os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles".
"Entre esses dois tipos não há, em verdade, tanto uma oposição absoluta como uma incompreensão radical. Ambos participam, em maior ou menor grau, de múltiplas combinações e é claro que, em estado puro, nem o aventureiro, nem o trabalhador possuem existência real fora do mundo das idéias (Nota-se a análise de cunho weberiana). Mas também não há dúvidas que os dois conceitos nos ajudam a situar e a melhor ordenar nosso conhecimento dos homens e dos conjuntos sociais". 

"A ânsia de prosperidade sem custo, de títulos honoríficos, de posições e riquezas fáceis, tão notoriamente característica da gente de nossa terra, não é bem uma das manifestações mais cruas do espírito de aventura?"
"O gosto da aventura teve influência decisiva em nossa vida nacional".
"O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas a riqueza que custa ousadia, não a riqueza que custa trabalho".
"Nossos colonizadores eram, antes de tudo, homens que sabiam repetir o que estava feito ou o que lhes ensinara a rotina".(Nestes termos, Buarque irá trabalhar com a idéia de Plasticidade Social, sendo os portugueses o exemplo dessa plasticidade, onde souberam adaptar-se ao que estava posto, sem fazer tanto um uso de uma energia sistemática e paciente).  

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Modernidade no Brasil - Conciliação ou Ruptura?
Antonio Houaiss e Roberto Amaral.
Editora Vozes.

Sociedade ágrafa. ( Uma ilha de letrados num mar de analfabetos!)


A tipografia - como havia sido também com os teares - só chega ao Brasil em 1808, com D. João VI, que aqui manda montar os prelos trazidos de Lisboa. Instalava-se a imprensa Régia para atender às necessidades do novo Estado: imprimir os papéis da corte e divulgar os atos e documentos oficiais de governo. 
A título de curiosidade, no século XIX, qual era a porcentagem de analfabetos?
Ao longo de todo o império, o índice não seria inferior a 80% !! Diante disso, pergunta-se: Qual é o Brasil que despertava para a maioridade política ? Fica evidente quem são os heróis da nossa história escrita, documentada, registrada, consagrada pela alta burocracia? 
Até fins do século XVIII o segmento letrado em qualquer parte do mundo não superava 2%. Quem dominava? Quem escrevia? Quem lia? Senhores de escravos, latifundiários, aristocracia rural, plutocracia cafeeira, pecuária mineira, cafeicultura fluminense, estancieiros do sul, burguesia industrial e financeira, militares, generais etc. A dominação e o jugo era por meio de documentação, registro, leis e códigos acessíveis e pertinentes a uma elite dominadora, espoliadora, depredadora e expropriadora.
Civilização cartorária desde as origens lusitanas ( de mentalidade burocrático-cartorário-autoritária), apegada ao papel e ao documento escrito, nascemos pelo batismo de uma carta e pelas mãos e bênçãos de um escrivão. E crescemos como país de bacharéis sem nenhuma aptidão para as coisas da terra, entre as quais se incluiria o trabalho. E aqui é bom lembrar Florestan Fernandes: " ...O principal foco de interesse da aristocracia brasileira, em face do ensino superior, se dirigia para a formação de uma elite capaz de exercer as funções públicas, de natureza política ou administrativa. (lembrando: 1822 - formação de um Estado Nacional). Com isso, o bacharel em direito passou a desfrutar de um prestígio excepcional - correspondido por oportunidades práticas em diferentes carreiras altamente reputadas - e as Faculdades de Direito se tornaram as principais agências de educação superior do país. Na verdade, o bacharel se transformou em agente e prolongamento do senhor rural no mundo urbano da corte ou das capitais das províncias. Quando não era seu filho ou neto, era seu dependente, conformando-se com a ordem moral associada à escravidão, ao latifúndio e à monocultura." ( A Sociologia no Brasil, p.19) Essa organização da sociedade brasileira está ligada aos interesses da camada senhorial, escravocrata!  
Herdamos uma história feita por poucos letrados em uma humanidade de analfabetos, párias, índios, mamelucos e escravos, muribocas ou cafuzos, mestiços de índios e negros, população alienada da riqueza e dos bens da cultura, em sociedade que só reconhecia o branco, o branco europeu e proprietário. Não é por acaso que as primeiras faculdades são de Direito! Aliás, até 1889, ano da proclamação da República, isto é, da implantação mecanicista do modelo norte-americano de República e Federação, possuíssemos tão só cinco escolas de ensino superior, sendo duas de Direito ( Olinda e São Paulo), duas de Medicina (Rio e bahia) e uma Politécnica (Rio). De costas para si mesma, essa elite - bacharéis, funcionários públicos, comerciantes, os 'correspondentes' dos grandes fazendeiros, padres, professores de latim, a pequena nobreza na corte colonial e, depois, no Império, vivia com os olhos fixos na praia, no além-mar. 
Exílio do povo e Estado autoritário. Estado forte dominado por minorias econômicas, juridicamente amparados por recursos inimagináveis pelos teóricos do liberalismo. Nossos hérois são os bachareis da Inconfidência recém-chegados de Coimbra e o Alferes, os Andradas, os Braganças, a Princesa e seu Conde, o Duque de Caxias, o Almirante Tamandaré, o Almirante Barroso, o Professor Benjamin Constant, os Marechais Deodoro e Floriano, o Embaixador Nabuco, o Barão do Rio Branco, o Conselheiro Rui Barbosa...


sábado, 15 de outubro de 2011



Nem tudo o que é Sólido desmancha no ar.
Paulo Eduardo Arantes.
O que devemos pensar como um problema de ordem mundial, sob jugo do capital, é a inclusão de milhares de seres humanos neste sistema de dominação e exploração. É a inclusão, que se dá de forma cada vez mais precarizada, e com perda de direitos, que me preocupa. ( livre interpretação) Com a mundialização do capital, ninguém está fora, afirma Arantes.
"...Sobretudo as grandes massas precarizadas e desconectadas na corrida ao corte de custos: em tempos de pressões competitivas globalizadas, literalmente não têm mais para onde ir. Nunca estiveram tão irremediavelmente incluídas."
A ordem burguesa, a dominação por processos econômicos espoliativos, bem como a exploração do homem ante o homem; Nada mais plausível que até mesmo a massa sobrante seja fonte de rentabilidade, controle de preços, geradora de lucros e incrementadora de investimentos. O bom exemplo, que vem dos EUA, como não poderia deixar de ser, é o da teoria das janelas quebradas, ou Broken windons theory. O neoconservadorismo norte-americano atuando como nunca, na busca de rentabilidade do capital. Na incrementação do valor do capital.
Seguindo nesta entoada, um outro processo, coadunado com esse de cima, nas palavras de Arantes, é o da globalização, o qual ele prefere chamar de espasmo pré-histórico do sistema tautológico de acumulação do capital.
"Continuaremos na mesma, a mesma desgraça econômica de sempre, desde que a terra, o trabalho dos homens e a moeda de troca entre eles foram transformados em mercadoria, como qualquer outro artigo de comércio." Permanecemos na luta de classes! O capitalismo, eis sistema! Atuando na sua busca infindável de acumulação. A mítica da normalidade burguesa, configurada na modernolatria ,cega a todos que, de uma forma ou de outra, acreditam no ajuste passivo ante o monstro pré-histórico que nos domina. Fazer história é superar transformando, transformar superando, não simplesmente reproduzir as forças materias de sobrevivência cegamente, de forma reificada, alienada, estranhada, usurpada. A emancipação ainda é uma ficha com a qual devemos apostar.