sábado, 23 de abril de 2011

O Brasil cresceu visivelmente nos últimos 80 anos. Cresceu mal, porém. Cresceu como um boi mantido desde bezerro dentro de uma jaula de ferro. A nossa jaula são as estruturas sociais medíocres inscritas nas leis para compor um País da pobreza na província mais bela da Terra. Sendo assim, do Brasil do futuro a maioria da gente nascerá e viverá nas ruas em fome canina e ignorância figadal, enquanto a minoria rica, com medo dos pobres se recolherá em confortáveis campos de concentração cercado de arame farpado e eletrificado. Entretanto, tão fácil nos livrarmos dessas teias e tão necessário que dói em nós a nossa conivência culposa.
Darcy Ribeiro.

sábado, 9 de abril de 2011

Neste folheto publicado à época das comemorações do 500 anos de "descobrimento" do Brasil, na euforia das agitações, Waldemar de Gregori resolve escrever esse texto que vai na contramão dos festejos que se fizeram na data da comemoração.
Waldemar de Gregori é sociólogo, formado em Letras, Filosofia e Teologia com mestrado e doutorado em Ciências Sociais e Políticas. Para quem quiser saber mais sobre ele e sua teoria (Cibernética Social e Proporcionalismo), entrar no seguinte site: www.waldemardegregori.net
Colocarei aqui um pouco da análise dele sobre o Brasil e os brasileiros. Esse texto do folheto está na íntegra lá no site dele.

O que significou esses 500 anos de exploração/colonização?
Lingua: A língua luso-brasileira é uma corruptela do galego-castelhano que, por sua vez, era uma corruptela do latim falado na periferia do Império Romano, por mascates, soldadescas e prostitutas. Com a formação da estrutura social da época, segregou-se em duas: a do povo e a do soberanos, dos senhores, dos feitores, que se atribuem todos os títulos superlativos (Excelentíssimo, Digníssimo, Magnífico, Doutor, Senhor, V. Sa.). Os títulos para os demais são " galera, plebe, povão, populacho, ralé, seu Zé, D. Maria, zé ninguém, carentes, marginais e, agora, B.O."...
Nossa imprensa trabalha para manter a desinformação. A imprensa encena a farsa social, passada como solene verdade. Gosta de fazer das notícias um "gostoso clima de fofoca, de novela, de dubiedade".
Mas como dizem, o povão gosta de palavras e frases bonitas, de propaganda bem feita, de imagens bonitas nas novelas e na TV, gosta de discurseira oficial grandiloquente, cheia de promessas mentirosas, mas...bonitas.
Por nossa ambígua identidade nacional-cultural, e pela ambiguidade na identificação pessoal ( o poderoso senhor faz se passar por um sacrificado, e os coitados querendo fazer-se passar por senhores) a língua costuma ser usada pelo avesso: invasão é chamada de descobrimento; colonização é chamada de civilização; golpe de estado é chamado de revolução; pois sim quer dizer não; pois não quer dizer sim...
Os políticos têm discurso popular de esquerda nas campanhas eleitorais, e fazem, depois de eleitos, governos de uma direita furibunda. O Estado saqueia os mais fracos e depois finge que se sacrifica para socorrê-los com a devolução de migalhas em campanhas de solidariedade e salários que são realmente mínimos. 
Já foi "chic" falar francês. Agora é "in" falar inglês (Economês, publicidade, informática, tudo é inglesado). Daí a reação de Oswald de Andrade contra a "estrangeirização": "Tupi or not tupi?"
Os nomes de lugares são repetição dos topônimos portugueses ou de santos padroeiros da capela ou paróquia; e os nomes de pessoas, principalmente entre o povo, são de origem religiosa (Maria, Fátima, das Dores, Penha, Socorro, Manoel, Joaquim, José, Jesus, João, Pedro, Paulo...). O dia-a-dia está cheio de referências a Deus, diabo, "minha Nossa Senhora", "os anjos digam amém", "São Pedro mandou chuva", "virou anjinho"(morreu), "entregou a alma a Deus", " o diabo que o carregue". Há uma série de ditados de base religiosa que ajudam a manter a mentalidade mágica.

Relações de classe, luta de poder: Lideranças e chefias imperiais e absolutistas adoram rituais, encenações, comitivas, beija-mãos, beija-pés, puxações...enquanto os demais são considerados súditos, vassalos, peões, servos e escravos. Esse modelo mental/político/econômico cristalizou-se em Casa Grande & Senzala, descrito ( e disfarçadamente justificado) por Gilberto Freyre. É o que ainda prevalece em todo o Brasil, com variantes. 
O povo submisso, escravo-propriedade ou escravo-assalariado, é tão domesticado e conformado que se torna vítima dócil, aliada e defensora do seu algoz e carrasco. 
Os poucos ricaços brasileiros assaltam todos os pobres há 500 anos. A reação dos oscilantes (ver o site dele para entender como ele vê a figura do oscilante, o antioficial e o oficial) é pela piada, pela banalização grosseira contra o português, contra o "senhor"; ou é pela música de protesto, pelo show humorístico politizado, tudo como substitutivo pobre da luta real contra a opressão e a extrema desigualdade. A revolta surda e impotente manifesta-se em lugar deslocado: de cada indivíduo ao indivíduo mais próximo, tipo o "fura-filas", o amigo-da-onça, o malandro, o cafajeste, o vigarista, o "fominha" no trânsito e no esporte, o chefe de gangue...
Do fominha individual passamos ao bando assaltante, mas nunca à revolução organizada. Age pela "lei de Gérson" nunca pela lei do bem comum, da luta de classes ou das revoluções. É o mongolóide social.
Nem Portugal nem Brasil tiveram uma revolução que destronasse seus subgrupos oficiais e substituísse seu paradigma, como ocorreu na Inglaterra, EUA, França. Os poucos e pobres ensaios (Santidade do Jaguaribe, precursora de Canudos, Quilombos, Reduções Jesuíticas, Cabanos, Farrapos, Canudos, Juazeiro, gangues de morro, etc.) foram e são ferozmente reprimidos e desmantelados.
A elite luso-brasileira política, econômica e sacral sempre foi intolerante e implacável com os subgrupos antioficiais, os questionadores, os discordantes. Basta ver como foram tratadas as minguadas esquerdas e os quase-herejes, lá e cá. Quando não há outro motivo para exercer o autoritarismo sádico sobre o fraco, alega-se " desacato à autoridade". Mas, se o criminoso é alguém do subgrupo oficial, manda-se prender e punir a testemunha ou a vítima (como no caso do Rio Centro, do SIVAM, da pasta rosa, dos precatórios, das teles, etc.). Os processos contra algum membro dos subgrupos oficiais mais altos são sempre aquivados por "insuficiência de provas".
Só para camuflar o unilateralismo, o monadismo, a fúria direitista e capitalista exploradora dos subgrupos oficiais e evitar um acerto de contas histórico é que se prega a lorota da imparcialidade, da democracia racial, se defende que os brasileiros são cordatos, são centristas, não extremistas ( é preciso combater o extremismo, o fanatismo, a radicalização, a violência).
Economia: O poder emana do dinheiro e em seu nome será exercido. É o lema da seita ou peste econômica que nos assola. A inflação, os pacotes, o PROER para banqueiros e especuladores internacionais, os salários congelados e os preços soltos, os incentivos fiscais, a corrupção, as mordomias, os impostos vorazes tendo o leão como símbolo, e tantos outros truques de espoliação, justificados em economês pelos teólogos da nova seita econômica levando à pior distribuição de renda do mundo. Mas o marketing faz os infelizes declararem-se felizes e otimistas, convence as vítimas a aplaudirem seus algozes.
Os problemas do bem comum são empurrados para o futuro, deixados para depois, acumulando lenha para alguma fogueira, forca, guilhotina ou fuzilamento. Nacionalsimo é só de futebol, de esportes e de "proteção" de crianças para não serem adotadas por casais do primeiro mundo. Para disfarçar, difunde-se um ufanismo verde-amarelo bobo, encobridor da pobreza. Aqui, tudo é "maior do mundo"; Meu Brasil, eu te amo"; Brasil ame-o ou deixe-o"; "país do futuro"...
A nossa urbanização ainda separa a Casa Grande (bairros residenciais) e Senzalas (favelas, vilas, invasões, amontoados).
Na residência, separa a parte do escravo (quartinho nos fundos ou "dependência completa de empregada) do resto que é o espaço do senhor. Nos prédios, separa-se o elevador social ( do senhor) do de serviço ( da empregada, empregados)...
A maioria da nossa juventude tem amadurecimento retardado nos três cérebros (esquerdo, direito e central). Fica dependente, inconsciente, infantil, desorientada pela droga e pela "cultura" de shopping ianque, com preguiça de estudar, de lutar para abrir caminhos. Depois, vai compor a grande massa oscilante e sem cidadania que somos, manipulados pelo poder econômico, pelo poder civil-estatal e pelo poder sacral-religioso.
Sabemos demais de horóscopo, de novelas, de jogadores de futebol, de lady Di... Viramos doutores em lábia, quando defendemos nossos preconceitos e besteiras. Somos esse híbrido de senhor e escravo, espressando-se ora pelo escravo submisso quando é subordinado, ora pelo do senhor autoritário e corrupto quando ocupa uma chefia, por mais insignificante que seja. Somos ecléticos, misturadores e empobrecidos mentais. Somos assimiladores deslumbrados perante o estrangeiro e pouco criadores originais.
E por aí vai pessoal, quem quiser ver o texto na íntegra basta acessar o site do Gregori.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

 
Maringoni
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17634