quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Mundo é Bárbaro - Luis Fernando Veríssimo.

Os Sem-Verdade.

Os donos da verdade são um pouco como os donos da terra no Brasil. Alguns têm latifúndios de verdade que não querem ver divididos. Muitos vivem há anos de verdades improdutivas e, como no caso da terra, há verdades cujo título de posse não resistiria a um teste de legitimidade - ou são verdades roubadas, ou são verdades mal medidas, ou são simplesmente mentiras.

Há verdade herdada que o dono nem conhece, verdade ociosa servindo só de patrimônio ou garantia e verdade que você vai ver é um pântano. Quem desafia a posse de toda a verdade nacional por uns poucos é chamado de agitador. O máximo de participação permitida a quem tem sua verdade negada é ser posseiro na verdade alheia. Ter a ilusão de ser dono de um pouco de verdade, às vezes só um quadrado, uma horta de verdade, mas depender da definição da verdade dos outros.
Resta aos sem-verdade fazer o que fazem os sem terra: se organizarem e pedirem uma reforma semântica para valer, uma reavaliação do significado de palavras e conceitos e uma distribuição mais justa da verdade entre os brasileiros. A concentração da verdade numa minoria e a resistência à verdade compartilhada ou á reforma da verdade acabará sendo ruinosa para todos, inclusive os seus atuais proprietários. Da mesma forma que, dividindo a terra ociosa, mais do que justiça, se estaria fazendo sentido, para uma agricultura mais competitiva, a divisão da verdade - a verdade para quem quer trabalhar com ela! - salvaria os atuais donos de todas as distorções dom pensamento único, e do risco de um dia precisarem de uma crítica sincera e não encontrarem fornecedor.

Reforma da verdade já!


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Professor e o Combate à Alienação Imposta.
Ezequiel Theodoro da Silva. Cortez Editora. 

São apenas alguns pontos do livro. Procurei ressaltar algumas idéias mais norteadoras do livro. São elas:

É preciso "combater a ideologia tecnocrática disseminada e imposta". Combater o "esvaziamento do sentido da educação e de suas teorias quantitativas..."
Ezequiel aponta: "administradores, supervisores(...) esses elementos, por razões diversas, passaram a exercer funções estritamente controladoras e policialescas dentro das escolas, envolvendo-se muito mais com o rolo maquiavélico da burocracia do que com as reais necessidades dos professores, alunos e comunidade".

Alerta: " Um 'cheiro' bem dado na realidade brasileira vai fazer sentir, pelo fedor que exala, que a alienação continua sendo imposta aos professores brasileiros". 
De que forma a alienação é imposta aos professores? Ezequiel: salário aviltante, condições precárias para a produção do ensino, péssimas condições de aprimoramento profissional, sem contar o fato dos professores terem que dar aulas em mais de uma escola, não sobrando tempo para quase nada, a não ser para o cansaço. A única coisa que sobra aos professores que protestam, é a lei do cassetete.

Ezequiel critica a sistematização do senso comum, muitas vezes compartilhada entre os próprios professores. Exemplo: "Quem não estiver contente, que mude de emprego! Substituiremos todos os insatisfeitos!" 
Temos sim um processo de coisificação do professor. O professor não como sujeito reflexivo e crítico, atuante na transformação, junto com os alunos, na e para a sociedade. Pelo contrário,  temos o professor com a consciência triturada. Temos no cenário educacional atual uma avalanche de teorias educacionais imperialistas ( " o que é bom para eles é bom para nós"), temos todo um sistema educacional elaborado em gabinetes. 
A própria ideia de ensino profissionalizante pode ser vista ( livre interpretação) como quebra da crítica social. Com essa idéia, o que temos é a instrumentalização do conhecimento. 
Ezequiel enfatiza que todo ato pedagógico é um ato político. Fazer frente contra o poder dominante e contra os regimes de privilégios, eis o que se faz necessário.

Recuperação da Dignidade.

"Na ótica das autoridades dominantes, o professor é visto como um trabalhador improdutivo, isto é, alguém que não gera divisas econômicas imediatas para o país. Daí as migalhas de verbas dedicadas ao desenvolvimento do setor educacional; daí algumas ideias distorcidas, já presentes no senso comum da população: 'Se ficar no magistério ´porque é ruim ou louco!' , ' O status do professor já era!' , ' Ensinar é dom e sacrifício!' etc. Em essência isto quer dizer que somente os medíocres optam pela carreira do magistério." Os professores encontram-se inseridos no cotidiano alienado, reproduzindo valores egoístas e mesquinhos.

De um capítulo chamado "De como ser um bom professor", Ezequiel dá alguns pontos de vista, entre outros, de como deve ser a postura do professor. Exemplos que ele dá:

  • Vincule, sempre, os conteúdos ensinados à história. Procure mostrar que esses conteúdos (científicos, literários etc.) foram produzidos por homens e não por divindades extraterrenas!
  • Faça um exercício de crítica e coerência quando da seleção e sistematização do conteúdo a ser apresentado aos alunos. Quase nunca o guia curricular ou livro didático oferece o que há de melhor em termos de conteúdo e metodologia - há muita ideologia e um excesso de mercadologia por trás disso tudo. Nada melhor do que a sua consciência crítica para desmascarar tais mecanismos de alienação.

O Pelego do setor educacional.

"Em essência, o pelego é um aparelho ideológico do Estado, enraizado em diferentes organismos da sociedade. Subir rapidamente na vida ou conseguir impor-se pela prática da espionagem, obedecer cegamente os mandos e desmandos do poder, esquecer conscientemente a sua origem social e os preceitos da solidariedade etc. - há, sem dúvda, muita relação entre Judas e esse bedel-delinquente da sociedade brasileira."
"O pelego é um ser (?) que não assimilou bem os valores, interesses e reivindicações desenvolvidas na sua classe de origem e, seguindo a linha do oportunismo, opta por privilégios pessoais em detrimento do 'coletivo'. "
Segundo Ezequiel, infelizmente, os pelegos invadiram a seara educacional. Como diz, esses tristes personagens proliferaram e ali ficaram.


No decorrer do livro, analisando a situação dos professores inseridos na realidade alienada em que estão, constata algumas questões que implicam o próprio dia-a-dia da escola. Questiona-se:
  • Escola: local de estudo ou de acesso à merenda? (crianças passando fome em casa?)
  • Escola: local de aquisição de conhecimentos ou de orientação psicoterapêutica? (Assumir papel de pai, de mãe,de  psicólogo, de orientador, de terapêuta, de shopping, de lazer etc?)
  • Escola: local de questionamento crítico dos valores sociais ou de atendimento médico-odontológico?
  • Escola: local de formação/informação ou de comércio de bijuterias? (minguado e insuficiente salário dos professores?)
  • Escola: local de instrumentação para o trabalho ou uma panacéia para todos os males sociais?
"Com o acirramento das contradições da capitalismo nestas duas últimas décadas(1980-1990) e, em consequência, com as reverberações da crise econômica junto à população, a escola brasileira passou a desempenhar funções que, aos olhos de um analista mais crítico, fazem diluir a possibilidade de realização de suas finalidades primeiras."

Metodologia de ensino.

No fim, Ezequiel afirma que a educação brasileira, mais especificamente a metodologia de ensino, está amarrada a três pontos: 1º - As lutas travadas pelo povo em direção à conquista da democracia; 2º - As reflexões feitas sobre a crise ou ameaça de falência do nosso sistema educacional; e 3º - Os questionamentos feitos sobre a necessidade de conscientização e educação dos educadores".

"A classe dominante vinha agindo no sentido de tornar a escola uma entidade à parte ou à margem do processo histórico - sua função era a de mero apêndice ideológico do Estado, era a de, docilmente, à semelhança de uma empresa ou indústria, formar a mão de obra alienada, necessária ao cumprimento dos princípios desenvolvimentistas, que prefaziam o acordo MEC-USAID, selado em 1966."

Ezequiel procura fazer uma crítica das metodologias implantadas na educação nos últimos trinta anos. Pedagogias, por exemplo, do tipo "com muito amor e carinho", "compaixão", "amar os alunos" etc etc, esteriotipias essas a respeito do trabalho dos professores começaram a ser questionadas. Uma crítica que surge para repensar o tecnicismo, o psicologismo, o tecnoburocratismo etc, que fazem parte do mundo pedagógico.

Ezequiel faz uma análise contundente das pedagogias que mais estão coerentes com as ideologias e valores dominantes do mundo regido pelo capital, do que a superação do mesmo. Da atuação do professor e do que se espera de uma escola. De uma escola que, de fato, seja o local de uma aprendizagem crítica.

Bem, caros leitores, o que aqui se encontra postado são apenas recortes do livro. Assim como outras postagens aqui publicadas. Recomendo sempre a leitura do livro. Mas mesmo assim fica aí algumas idéias do livro, pois essa é a intenção do blog, postadas para daqui em diante sempre termos alguma referência sobre do que se trata o livro. A intenção é divulgá-los, de uma forma ou de outra.