terça-feira, 19 de julho de 2011

Os Bruzundangas. Lima Barreto. Editora Ática. 1985. 
A primeira edição do livro é do ano de 1922, após a morte do escritor. A maioria dos textos que compõem Os Bruzundangas foram publicados, em sua maioria, primeiramente, no semanário A.B.C., do Rio de Janeiro, em 1917. 
No Brasil, tínhamos o regime republicano oligárquico(1889). Tendo o Rio de Janeiro como a capital de nosso país naquela época, Lima Barreto vivenciava o período da Bélle Époque, onde os ideais de progresso e de modernização conviviam com as crises políticas, econômicas e sociais. 
Neste livro, Barreto satiriza uma nação fictícia, o qual ele teria vivido nela por algum tempo. Nação essa com costumes e instituições muito parecidas com as de um país chamado Brasil. Na verdade, é uma clara alusão ao nosso próprio país: um Brasil oligárquico, nepotista, com um política baseada no privilégio, no favor, em títulos de nobreza, coronelismo, ignorância, pseudo-intelectualidade, exclusão, racismo etc.
Na introdução de Valentim Facioli, dessa edição citada acima, revela-se peculiaridades sociais muito parecidas entre os dois países (Bruzundanga e Brasil): sonha o dominado em ser como o dominador, eis aí um dos grandes segredos da dominação. Os mais fortes devorando os mais fracos, às vezes até com a anuência destes. 
Enfim alguns trechos do livro, coloco aqui apenas algumas frases representativas do que seja a obra,  penso eu. Mas o melhor é ler o livro por inteiro mesmo!
Já no prefácio, Barreto cita a frase de um livro " A Arte de Furtar"(obra anônima portuguesa do século XVII),  na qual diz: "os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões". A Bruzundanga fornece matéria de sobra para livrar-nos, a nós do Brasil, de piores males, pois possui maiores e mais completos.
Os samoiedas são os literatos de lá. A literatura em Bruzundanga: quanto mais incompreensível é ela, mais admirado é o escritor que escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito.
Os vates (poetas) vestiam-se com peles de urso, de renas, de martas (gênero de mamíferos carnívoros) e raposas árticas. Lembra-nos Barreto, que Bruzundanga fica nas zonas tropicais e subtropicais. Porém, a estética da escola Samoieda pedia que eles se vestissem assim.
A conversas entre os três vates ( Kotelniji, Wolpuk e Korspikt) demonstra toda a harmonia imitativa que a poesia bruzundanguense tentava realizar num esforço "parvoítico" de se equiparar com estilos europeizantes de rimas e métricas poéticas. (Uma crítica ao simbolistas e parnasianos com ares europeizantes).
Os samoiedas contentam-se com as aparências literárias e a banal simulação de notoriedade...

Em Bruzundanga, quando (em geral) as pessoas vão estudar medicina, não é a medicina que eles pretendem exercer, não é curar, não é ser um grande médico, é ser doutor.

Um Grande Financista: Felixhimino Ben Karpatoso. Era financista e foi tido como o parlamentar mais chic do Congresso Nacional. O que importava aqui são os ademanes(modos, trejeitos, gestos) de cada um. Ainda mais que Karpatoso acabara de regressar da Europa. O novo presidente de Bruzundanga chamava-se Idle Bhras. (Idle em inglês quer dizer ocioso).

A Nobreza da Bruzundanga: a Doutoral e a de palpite. A doutoral é constituída por cidadãos formados nas escolas, chamadas superiores (medicina, Direito e Engenharia). Tem privilégios ditados pelas leis ou pelos costumes.
O título doutor, em Bruzundanga, anteposto ao nome tem o efeito do Dom em terras da Espanha.
A outra nobreza são os titulares de palpite: marquês, duques, condes, com sobrenomes e pronomes de importância, considerando-se então constituídos de nobreza por pertecerem a familia tal.

A política e os políticos da Bruzundanga: A primeira coisa que um político de lá pensa, quando se guinda às altas posições, é supor que é de carne e sangue diferente do resto da população. Não há lá homem influente que não tenha, pelo menos, trinta parentes ocupando cargos do Estado.

O ensino da Bruzundanga: Os títulos, como sabeis, dão tantos privilégios, tantas regalias, que pobres e ricos correm para ele. Mas só três espécies que suscitam esse entusiamo: o de médico, o de advogado e o de engenheiro.

A diplomacia da Bruzundanga: Pelo simples fato de terem palmilhado terras estranhas e terem visto naturalmente algumas obras-primas, os diplomatas da Bruzundanga se julgam todos eles artistas, literatos, homens finos, genltmen. O ideal de todo e qualquer natural de Bruzundanga é viver fora do país.

Os heróis: Aqui Barreto cita o Visconde de Pancome ( que seria uma alusão à Barão de Rio Branco). Um país como a Bruzundanga precisa ter os seus heróis e as suas heroínas para justificar aos olhos do seu povo a existência fácil e opulenta das facções que a têm dirigido.

A sociedade: A política não é uma grande cogitação de guiar os nossos destinos; porém, uma vulgar especulação de cargos e proprinas. A gente de Bruzundanga gosta de raciocinar por aforismos. sobre toda as coias, eles têm etiquetadas uma coleção deles. Diria perfunctoriamente ( Que se faz só por se dizer que se faz, e não por necessidade ou com algum fim útil.).

As eleições: Os eleitores têm tendência de votar em conhecidos ou amigos.

A organização do entusiasmo: "...canalizar, de disciplinar o entusiamos do povo bruzundanguense..."; "...procurando dar às manifestações um cunho de novidade..."

Religião: Católica Apostólica Romana.

Uma provincia: A brutalidade do dinheiro asfixia e embrutece as inteligências. A polícia sob este ou aquele disfarce, abafa a menor tentativa de crítica aos dominantes.

MENTALIDADE DE PARVENUS: termo francês que designa o indivíduo que ascendeu socialmente sem aprimorar seu modo de agir ou de pensar (intelecto).

VIVA A BRUZUNDANGA!!!

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