domingo, 18 de setembro de 2011

Revendo.

A Revolução Burguesa no Brasil, de Florestan Fernandes.  Uma análise reflexiva sobre o Liberalismo. Sabe-se muito bem que o liberalismo surge na Europa ligado a uma forte concepção de liberdade individual,  tanto de caráter poítico (John Locke) como de caráter econômico(Adam Smith). Seres não-escravos, independentes, sem grilhões a nada que impeça sua autonomia enquanto indivíduo que age reacionalmente no mundo, conquistando tudo a que possa ter direito.
Na sua análise sobre o processo da revolução burguesa no Brasil, Florestan analisa a absorção do liberalismo pelas nossa elites. Elites escravocratas! Donos de escravos e latifundiários adeptos do liberalismo? Essa absorção apresenta, segundo Florestan, duas polarizações distintas. Bom a 1ª está associada à idéia de consciência social vinculada ao processo da "emancipação colonial". Neste primeiro caso, o liberalismo assume duas funções: dar forma e conteúdo às manifestações igualitárias diretamente emanadas da reação contra o "esbulho colonial".  Emancipação dos estamento senhoriais. Desempenhou também a função de redefnir as relações de dependência que continuariam a vigorar na vinculação do Brasil com o mercado externo e as grandes potências da época. 
A outra polarização do liberalismo neste contexto está associada com a construção de um Estado Nacional. Florestan vê neste periodo de crise do final da época colonial até a consolidação da independencia e a formação do Estado brasileiro, o caráter instrumental  do liberalismo absorvido pelas elites nativas.
As elites encaravam o estado como "meio" e "fim": "meio", para realizar a internalização dos centros de decisão política e promover a nativização dos círculos dominantes; e o "fim" de ambos os processos, na medida em que ele consubstanciava a institucionalização do predomínio político daquelas elites e dos "interesses internos" com que elas se identificavam. 
 Diz Florestan: A primeira polarização conduz-nos ao reino da ideologia; a segunda, ao reino da utopia. Ideologia e Utopia aqui utilizados por Florestan, são conceitos que Florestan empresta do sociólogo Karl Mannheim. ( Cabe me ver direito, mas, pelo o que tudo indica, Mannheim faz uma distinção entre um conceito e outro). Ideologia teria um caráter mais conservador, justificador da ordem social; já a utopia teria uma função mais crítica, contestatória. 
O liberalismo sofre aqui uma reelaboração sociocultural. Os "senhores rurais" tinham de aprender a pensar e agir sobre si próprios, os negócios da coletividade e os assuntos políticos de interesse geral sem a mediação dos nexos coloniais...Sob esse aspecto as categorias de pensamento inerentes ao liberalismo preenchiam uma função clara: cabia-lhes suscitar e ordenar, a partir de dentro e espontaneamente, através do estatuto nacional, mecanismos econômicos, sociais e políticos que produzissem efeitos equivalentes aos que eram atingidos antes através do estatuto colonial.
A ideologia liberal se equacionou historicamente, acima de tudo, como uma ideologia da emancipação dos estamentos senhoriais da " tutela colonial" e só derivadamente, como interferência inevitável, ela assumiu o caráter de uma ideologia de "emancipação nacional". Tanto a ideologia quanto a utopia liberal  só adquire consistência através e depois da transfiguração do elemento senhorial em "cidadão".  Termos como cidadão e sociedade civil à época, aqui considerada, eram termos que se restringiam a poucos, mas poucos mesmos.
Diz Florestan que não é fácil discernir o que é ideológico do que é utópico nas objetivações do liberalismo no contexto histórico considerado. Dificuldade essa já apontada pelo próprio Mannheim, na conceituação dos termos. 
Nos conflitos com as estruturas coloniais persistentes, nem sempre esses componentes ideológicos e utópicos levaram a melhor.  Utopia e Ideologia liberais nunca conseguiram prevalecer de forma decisiva e determinante (escravismo, latifúndio, exclusão). Por isso, as inconsistências e as ambiguidades do liberalismo se refletiam por igual na ideologia e na utopia liberais, tornando precária qualquer tentativa de distinguí-las com algum rigor interpretativo. 
Para Florestan Fernandes, e isso ele faz questão de deixar bem claro, o liberalismo teve uma influência significativa na conduta do "senhores escravocratas" (por mais contraditório que seja, e é), pois, com o passar do tempo, eles começaram a dinamizar uma nova postura ante uma realidade que permanecia, em sua estrutura, a mesma, porém delineava um novo horizonte de ganho e reorganização econômica na e da colônia (o que não significou independência, mas sim uma econômia heteronômica, ou seja, do mesmo jeito que era antes, na vigência do pacto colonial).

Obs: Continuarei a dar sequências para esses e outros pontos do livro "A Revolução Burguesa no Brasil", como também irei abordar pontos outros de livros aqui já postados, bem como novos livros que virei a postar.


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