segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Crítica da Razão Tupiniquim.
12ª Edição.
Criar Edições.
2001.
Roberto Gomes é um filósofo e escritor inquieto. Provocador. A primeira edição do livro data de 1977. E nas palavras de Darcy Ribeiro: " O Brasil finalmente volta a filosofar". 
Roberto Gomes nasceu em Blumenau, SC, em 8 de outubro de 1944. Formado em filosofia em 1968, inicia sua carreira de professor universitário na universidade da PUC/PR e, a partir de 1973, na Universidade Federal do Paraná, na qual se aposentou em 1998.
Bom, dito isso, eu poderia começar perguntando: existe uma filosofia brasileira? O que é e como é o pensamento realizado aqui nos trópicos? 
Seria o pensamento brasileiro, a tanto tempo, uma cópia da Razão européia? Antes de mais nada Gomes  nos coloca a seguinte indagação: O que é uma razão tupiniquim?
Aponta Gomes: "O brasileiro aliena-se de dois modos: rindo de sua sem importância ou delirando em torno do país do futuro". O gosto pela piada: rimos daquele que nos insulta. Rimos dos dirigentes que deveriam representar nossos interesses.
Deixar as coisas como estão para ver como é que ficam; Não esquentar a cabeça; Analisa não! Dá-se um jeito. Pros lados de cá, nada se resolve, tudo se dá um jeito.
Gomes enfatiza: O brasileiro ainda não produziu filosofia. Pois a questão de um pensamento brasileiro deverá brotar de uma realidade brasileira - não do pensamento e da realidade oficiais mergulhadas num escafandro greco-romano. É preciso pensar o que é, como se é.
Gomes cita Cornelius Castoriadis: "a maior parte do que passa por filosofia hoje seja apenas comentário e interpretação, ou melhor, comentário e interpretação ao quadrado". ( O Fim da Filosofia in: O Mundo Fragmentado, As Encruzilhadas do Labirinto, Paz e Terra).
Um pensamento sempre traz em si a marca de seu tempo e lugar. Um pensamento é original não por superar sua posição, mas precisamente por dar forma e consistência a este tempo e apresentar uma revisão crítica das questões de sua época, aí tendo origem. 
Diz Gomes: " Não existe de fato nada com o que, ou com quem, eu devo me encontrar para me descobrir. Os encontros com são eternos e superficiais. Entre nós encontramos o apego extremo ao pensamento de outros por julgarmos que só os outros poderão nos dar qualquer chave do saber. A originalidade da filosofia consiste em descobrir-se em determinada posição, assumindo-a reflexivamente. 
Há uma filosofia não filosofada que se tem praticado no Brasil. Há uma filosofia entre-nós, o que é diferente de uma filosofia nossa. 
Da Europa suplicamos reconhecimento. A nossa elite brasileira sempre teve horror ao que a circundava. A importação de modelos e de pensamentos prontos sempre foi uma tônica forte no nosso modo de pensar.
Desejamos ser cultos, sobretudo em cultura estrangeira. Julgamos de alta erudição saber alemão ou latim. Desejamos ser reconhecidos pela Mãe-Europa, em nossa edipiana e mórbida dependência afetiva e intelectual. 
No entanto, é preciso libertar-se das pressões econômicas-culturais, e, internamente, da introjeção do papel de dependente e assimilador.
A Filosofia e a Sociologia esterilizada, asséptica, ornamental nada diz respeito de nós mesmos. Não incomoda.
Gomes retoma um pensamento da idéia de Filosofia de Gilles Deleuze, que diz que filosofia é a criação de conceitos, conceitos são espaços. O devir do momento, sua urgência, e não a simples transplantação de conceitos já definidos em terras européias. É preciso realizarmos o exercício de uma impiedosa antropofagia. Não é que devemos jogar fora o que foi produzido, mas sim se apropriarmos desses conceitos, reiventá-los, recriá-los, criá-los, enfim, ao que é específico a nossa condição. A Filosofia brasileira urge ser inventada. 
Veja que são apenas alguns pontos rápidos que coloquei. O livro explora várias outras idéias, publiquei algumas apenas. Mas acredito ter dado a tônica do pensamento do autor, a qual ele irá desenvolver ao longo do livro. A idéia de um pensamento que seja, de fato, brasileiro. Que tenha suas raízes construídas em terras tupiniquins. Que pense a condição do brasileiro. Sua época, história e situação.

Um comentário:

  1. Ênfase ao pensamento social no Brasil e sobretudo aos pensadores que rompem com conservadorismo...

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