quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Professor e o Combate à Alienação Imposta.
Ezequiel Theodoro da Silva. Cortez Editora. 

São apenas alguns pontos do livro. Procurei ressaltar algumas idéias mais norteadoras do livro. São elas:

É preciso "combater a ideologia tecnocrática disseminada e imposta". Combater o "esvaziamento do sentido da educação e de suas teorias quantitativas..."
Ezequiel aponta: "administradores, supervisores(...) esses elementos, por razões diversas, passaram a exercer funções estritamente controladoras e policialescas dentro das escolas, envolvendo-se muito mais com o rolo maquiavélico da burocracia do que com as reais necessidades dos professores, alunos e comunidade".

Alerta: " Um 'cheiro' bem dado na realidade brasileira vai fazer sentir, pelo fedor que exala, que a alienação continua sendo imposta aos professores brasileiros". 
De que forma a alienação é imposta aos professores? Ezequiel: salário aviltante, condições precárias para a produção do ensino, péssimas condições de aprimoramento profissional, sem contar o fato dos professores terem que dar aulas em mais de uma escola, não sobrando tempo para quase nada, a não ser para o cansaço. A única coisa que sobra aos professores que protestam, é a lei do cassetete.

Ezequiel critica a sistematização do senso comum, muitas vezes compartilhada entre os próprios professores. Exemplo: "Quem não estiver contente, que mude de emprego! Substituiremos todos os insatisfeitos!" 
Temos sim um processo de coisificação do professor. O professor não como sujeito reflexivo e crítico, atuante na transformação, junto com os alunos, na e para a sociedade. Pelo contrário,  temos o professor com a consciência triturada. Temos no cenário educacional atual uma avalanche de teorias educacionais imperialistas ( " o que é bom para eles é bom para nós"), temos todo um sistema educacional elaborado em gabinetes. 
A própria ideia de ensino profissionalizante pode ser vista ( livre interpretação) como quebra da crítica social. Com essa idéia, o que temos é a instrumentalização do conhecimento. 
Ezequiel enfatiza que todo ato pedagógico é um ato político. Fazer frente contra o poder dominante e contra os regimes de privilégios, eis o que se faz necessário.

Recuperação da Dignidade.

"Na ótica das autoridades dominantes, o professor é visto como um trabalhador improdutivo, isto é, alguém que não gera divisas econômicas imediatas para o país. Daí as migalhas de verbas dedicadas ao desenvolvimento do setor educacional; daí algumas ideias distorcidas, já presentes no senso comum da população: 'Se ficar no magistério ´porque é ruim ou louco!' , ' O status do professor já era!' , ' Ensinar é dom e sacrifício!' etc. Em essência isto quer dizer que somente os medíocres optam pela carreira do magistério." Os professores encontram-se inseridos no cotidiano alienado, reproduzindo valores egoístas e mesquinhos.

De um capítulo chamado "De como ser um bom professor", Ezequiel dá alguns pontos de vista, entre outros, de como deve ser a postura do professor. Exemplos que ele dá:

  • Vincule, sempre, os conteúdos ensinados à história. Procure mostrar que esses conteúdos (científicos, literários etc.) foram produzidos por homens e não por divindades extraterrenas!
  • Faça um exercício de crítica e coerência quando da seleção e sistematização do conteúdo a ser apresentado aos alunos. Quase nunca o guia curricular ou livro didático oferece o que há de melhor em termos de conteúdo e metodologia - há muita ideologia e um excesso de mercadologia por trás disso tudo. Nada melhor do que a sua consciência crítica para desmascarar tais mecanismos de alienação.

O Pelego do setor educacional.

"Em essência, o pelego é um aparelho ideológico do Estado, enraizado em diferentes organismos da sociedade. Subir rapidamente na vida ou conseguir impor-se pela prática da espionagem, obedecer cegamente os mandos e desmandos do poder, esquecer conscientemente a sua origem social e os preceitos da solidariedade etc. - há, sem dúvda, muita relação entre Judas e esse bedel-delinquente da sociedade brasileira."
"O pelego é um ser (?) que não assimilou bem os valores, interesses e reivindicações desenvolvidas na sua classe de origem e, seguindo a linha do oportunismo, opta por privilégios pessoais em detrimento do 'coletivo'. "
Segundo Ezequiel, infelizmente, os pelegos invadiram a seara educacional. Como diz, esses tristes personagens proliferaram e ali ficaram.


No decorrer do livro, analisando a situação dos professores inseridos na realidade alienada em que estão, constata algumas questões que implicam o próprio dia-a-dia da escola. Questiona-se:
  • Escola: local de estudo ou de acesso à merenda? (crianças passando fome em casa?)
  • Escola: local de aquisição de conhecimentos ou de orientação psicoterapêutica? (Assumir papel de pai, de mãe,de  psicólogo, de orientador, de terapêuta, de shopping, de lazer etc?)
  • Escola: local de questionamento crítico dos valores sociais ou de atendimento médico-odontológico?
  • Escola: local de formação/informação ou de comércio de bijuterias? (minguado e insuficiente salário dos professores?)
  • Escola: local de instrumentação para o trabalho ou uma panacéia para todos os males sociais?
"Com o acirramento das contradições da capitalismo nestas duas últimas décadas(1980-1990) e, em consequência, com as reverberações da crise econômica junto à população, a escola brasileira passou a desempenhar funções que, aos olhos de um analista mais crítico, fazem diluir a possibilidade de realização de suas finalidades primeiras."

Metodologia de ensino.

No fim, Ezequiel afirma que a educação brasileira, mais especificamente a metodologia de ensino, está amarrada a três pontos: 1º - As lutas travadas pelo povo em direção à conquista da democracia; 2º - As reflexões feitas sobre a crise ou ameaça de falência do nosso sistema educacional; e 3º - Os questionamentos feitos sobre a necessidade de conscientização e educação dos educadores".

"A classe dominante vinha agindo no sentido de tornar a escola uma entidade à parte ou à margem do processo histórico - sua função era a de mero apêndice ideológico do Estado, era a de, docilmente, à semelhança de uma empresa ou indústria, formar a mão de obra alienada, necessária ao cumprimento dos princípios desenvolvimentistas, que prefaziam o acordo MEC-USAID, selado em 1966."

Ezequiel procura fazer uma crítica das metodologias implantadas na educação nos últimos trinta anos. Pedagogias, por exemplo, do tipo "com muito amor e carinho", "compaixão", "amar os alunos" etc etc, esteriotipias essas a respeito do trabalho dos professores começaram a ser questionadas. Uma crítica que surge para repensar o tecnicismo, o psicologismo, o tecnoburocratismo etc, que fazem parte do mundo pedagógico.

Ezequiel faz uma análise contundente das pedagogias que mais estão coerentes com as ideologias e valores dominantes do mundo regido pelo capital, do que a superação do mesmo. Da atuação do professor e do que se espera de uma escola. De uma escola que, de fato, seja o local de uma aprendizagem crítica.

Bem, caros leitores, o que aqui se encontra postado são apenas recortes do livro. Assim como outras postagens aqui publicadas. Recomendo sempre a leitura do livro. Mas mesmo assim fica aí algumas idéias do livro, pois essa é a intenção do blog, postadas para daqui em diante sempre termos alguma referência sobre do que se trata o livro. A intenção é divulgá-los, de uma forma ou de outra.

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